“Quem namora quer terminar, quem está solteiro quer namorar”: o eterno ciclo da insatisfação humana
Ah, o amor e suas ironias! Existe uma frase que faz sucesso em rodas de conversa, memes de internet e até em desabafos regados a vinho: quem namora quer terminar, quem está solteiro quer namorar. Parece até uma maldição universal, uma peça pregada pelo destino para nos lembrar que a grama do vizinho é sempre mais verde. Mas calma lá, antes de culparmos o universo, vamos dar uma olhada mais de perto nesse fenômeno. Spoiler: isso vai muito além de relacionamentos amorosos. É sobre como enxergamos a vida, o que valorizamos (ou não), e o truque que nossa mente adora nos pregar.
A verdade
A verdade é que o desejo por algo diferente do que já temos é tão humano quanto respirar. O desconhecido quer ser famoso e sonha com o glamour dos holofotes, enquanto o famoso só quer poder sair para comprar pão sem ser reconhecido. O jovem vive ansioso pelo dia em que finalmente será “adulto de verdade”, sem perceber que o adulto de verdade, por sua vez, daria tudo para voltar aos tempos em que a maior preocupação era escolher a cor do lápis de cor. Se estivermos atentos, perceberemos que essa insatisfação crônica não é exclusiva dos relacionamentos ou da juventude; é um padrão que acompanha nossas escolhas e, especialmente, nossas comparações.
E por que isso acontece? Bem, parte da culpa é da nossa cabeça bagunceira. Nosso cérebro é mestre em pintar o lado negativo do que temos e o lado positivo do que não temos. É por isso que o pobre sonha com a fortuna que resolverá todos os seus problemas, enquanto o rico se sente esmagado pela falta de privacidade ou pelo vazio que o dinheiro não preenche. Não importa o campo — trabalho, saúde, status ou amor — sempre achamos que falta algo. Aquela sensação de que basta conquistar “só mais isso” para, finalmente, sermos felizes.
Mas será que a felicidade está mesmo no que ainda não temos? Spoiler número dois: não está.
O problema
O problema está enraizado na forma como processamos recompensas e novidades. Nossa mente, viciada em doses de serotonina, sempre busca aquele pico de prazer que vem com algo novo — seja um novo amor, um novo emprego, ou até o novo celular que acabou de lançar. Porém, a novidade perde o brilho rápido, e o ciclo recomeça. É o famoso “correr atrás do vento”: sempre há algo mais brilhante e promissor no horizonte, mas, ao alcançarmos, percebemos que o brilho era ilusão.
No campo dos relacionamentos, isso é especialmente cruel. Quando estamos solteiros, romantizamos a ideia de um parceiro que nos fará felizes, que será a solução para todos os nossos problemas emocionais. Quando estamos comprometidos, idealizamos a liberdade de não ter que prestar contas a ninguém. Por trás dessas fantasias está a tendência de amplificar os desafios do momento presente e romantizar as possibilidades que nunca experimentamos.
No fundo, isso nos leva a viver em um estado constante de ansiedade. Estamos tão focados no que falta ou no que poderia ser que esquecemos de apreciar o que já é. É como ter um jardim — e, ao invés de regar e cuidar dele, ficar de olho no jardim do vizinho, imaginando como seria bom se as flores fossem nossas. Só que, enquanto olhamos para o lado, o nosso próprio jardim murcha.
E aqui vai o antídoto: gratidão.
Parece Clichê
Parece clichê, mas funciona. A prática da gratidão não é só postar uma foto no Instagram com a hashtag #grateful; é um exercício real de mudar o foco. É parar, respirar e olhar para o agora, percebendo que, mesmo sem ter tudo, temos muito. Gratidão não elimina os desafios, mas nos ajuda a colocá-los em perspectiva. Afinal, nunca teremos tudo o que queremos, mas podemos aprender a querer o que já temos.
Essa é a chave para quebrar o ciclo de insatisfação. Não significa desistir de sonhos ou deixar de buscar melhorias, mas sim criar espaço para valorizar o que já está aqui. Quando agradecemos o presente, reduzimos a ansiedade pelo futuro e enxergamos nossas escolhas de forma mais clara.
E sabe qual é a mágica disso? Nada cresce sem cuidado. Assim como aquele jardim que murcha se você negligenciar, um relacionamento — ou qualquer outro aspecto da vida — precisa de atenção e esforço. Namorar ou estar solteiro, ser rico ou pobre, jovem ou mais velho, famoso ou anônimo, tudo tem seus prós e contras. Não existe escolha perfeita, mas existe uma maneira de fazer qualquer escolha florescer: cuidando dela.
Concluindo
Portanto, da próxima vez que você se pegar pensando que a grama do vizinho é mais verde, lembre-se de uma coisa: talvez seja porque ele rega mais. Se você regar a sua, ela também pode ficar linda. E talvez, só talvez, você perceba que ela já é verde o suficiente.